Oportunidade para o Brasil em energia mais limpa e a produção de minerais para a transição energética
A indústria de mineração tem um papel fundamental na transação enérgica para o futuro de energia mais limpa e uma economia com menor intensidade de carbono, além de fornecedora de matérias-primas essenciais para o desenvolvimento econômico e social das nações.
O Brasil está bem-posicionado em relação à oferta de energia. Em 2023, segundo o Balanço Energético Nacional (BEN) da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a oferta interna de energia do país atingiu 314 Mtep, com 49% provenientes de fontes renováveis (65% na indústria). Este número é superior aos 15% da matriz energética mundial e aos 13% da OCDE em 2021. Com essa matriz energética predominantemente renovável e um vasto potencial mineral, o Brasil se destaca no novo paradigma energético.
Este texto explora as vantagens competitivas do Brasil na produção de minerais e metais essenciais para a descarbonização da geração de eletricidade. Entre esses materiais estão terras raras, lítio, níquel, grafita, manganês e urânio, que têm atraído crescente interesse para prospecção e pesquisa mineral no Brasil e em outros países, com a participação de diversas empresas Juniors.
A mineração mundial consome aproximadamente 1-2% da energia global. No Brasil, segundo o BEN/EPE, a mineração representa cerca de 1% do consumo final de energia. As etapas de transformação mineral, incluindo metalurgia e fabricação de produtos minerais não metálicos, consomem cerca de 12% da energia final, sendo 9% para metalurgia e 3% para produtos não metálicos.
No consumo de energia elétrica, a mineração responde por cerca de 2% no Brasil. O consumo específico de energia elétrica varia bastante: produção de pedra brita consome 2-3 kWh/t, enquanto a produção de concentrado de minério de ferro consome cerca de 20 kWh/t. As etapas de transformação mineral têm consumos muito maiores: aço de siderúrgica integrada (500 kWh/t), alumínio (15.000 kWh/t), cimento (109 kWh/t) e fabricação de vidro (550 kWh/t). Essas etapas também resultam em maiores emissões de CO2 equivalente.
Alguns países se destacam ao gerar quase toda a sua energia elétrica sem depender de combustíveis fósseis, utilizando fontes de baixo carbono como hidrelétrica, solar, eólica e nuclear. O Brasil é um exemplo notável. Em 2023, segundo o BEN/EPE, a oferta interna de energia elétrica atingiu 708 TWh, com 89% proveniente de fontes renováveis, superando a média mundial de 27% e a da OCDE de 31% em 2021. Considerando a energia nuclear, 39% da matriz elétrica mundial é de baixo carbono, enquanto no Brasil, esse percentual é de 91%.
Para comparar o Brasil com outros países, a figura a seguir mostra o percentual de geração de energia elétrica de fontes de baixo carbono e a emissão de CO2e por unidade de energia gerada (g CO2e/kWh) em 2021. Inclui os 10 principais países em investimentos em pesquisa mineral, todos os países do G7, BRICs originais e quase todos do G20. A China se destaca como produtor, importador, refinador, consumidor e exportador de minerais e metais para a transição energética.
A emissão de CO2e varia inversamente ao percentual de energia proveniente de fontes de baixo carbono. Nesse sentido, a posição vantajosa do Brasil é evidente em comparação a outros países, destacando-se apenas o Canadá. Assim como a França, o Canadá utiliza uma alta porcentagem de energia nuclear em sua matriz elétrica. No Brasil, a produção de minerais e metais emite significativamente menos CO2e devido ao uso de energia elétrica, comparado a outros países com tecnologias e eficiências operacionais similares. Por exemplo, a emissão de CO2e por unidade de produção no Brasil é 58% da emissão no Canadá, 27% dos EUA, 18% da China e 17% da Austrália. No entanto, essa vantagem ainda não se reflete na valorização dos produtos brasileiros no mercado internacional.
Diversas estratégias surgiram nesse novo cenário de globalização para aproveitar as oportunidades criadas pela realocação das cadeias produtivas globais, considerando fatores geográficos, geopolíticos e geológicos que influenciam as decisões de governos e empresas. Entre essas estratégias estão o reshoring (trazer a manufatura de volta ao país), nearshoring (parceria com vizinhos), friendshoring (parceria com aliados), greenshoring (parceria com empresas que adotam práticas ESG) e powershoring (investimentos em países com matriz energética mais limpa para implantação de indústrias intensivas em energia, como metalurgia e fertilizantes, ou datacenters de inteligência artificial).
O powershoring tende a aumentar os investimentos, as exportações do país anfitrião e a fabricação de produtos mais ecológicos, com menor emissão de gases de efeito estufa (GEE). As empresas investidoras, por sua vez, precisam mitigar suas emissões globais de GEE, garantir segurança energética e reduzir custos.
O atual cenário geopolítico oferece oportunidades de parcerias que podem trazer para o Brasil a produção de produtos intermediários ou mais avançados na cadeia de produção, com maior valor agregado, utilizando nossos recursos minerais. Isso está alinhado com a política Nova Indústria Brasil (NIB), lançada este ano, e atende à demanda de países parceiros e à demanda interna. Além disso, possibilita o desenvolvimento ou adaptação de tecnologias no país, gera empregos especializados e aumenta a inserção da indústria brasileira nas cadeias globais de valor.
Em 2023, os preços da energia elétrica para a indústria variaram significativamente entre os países, sem uma relação clara entre a percentagem de energia de baixo carbono e o preço. O Brasil oferece preços mais baixos que 11 dos 18 países analisados. Fatores como políticas governamentais, infraestrutura, mix de fontes energéticas e subsídios influenciam esses preços. Enquanto países desenvolvidos enfrentam desafios para manter preços competitivos e aumentar a participação de energias renováveis, países em desenvolvimento precisam investir em infraestrutura e diversificação da matriz energética.
O Brasil, com uma matriz energética majoritariamente limpa e vasto potencial mineral, está bem-posicionado para liderar a transição global para uma economia de baixo carbono. O uso estratégico desses recursos, apoiado por políticas inovadoras e colaborações internacionais focadas em sustentabilidade e tecnologia avançada, pode fortalecer sua posição geopolítica e reafirmar seu papel de liderança em sustentabilidade no cenário mundial.
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